Era uma segunda feira de carnaval numa cidade que não tinha carnaval. Um lugar vazio, coberto apenas por uma chuva fina que entristecia o começo do dia. Será mesmo que chovia?
Aquele primeiro dia foi assim. O que eu podia fazer? Não podia mandar nos sentimentos alheios, não podia mandar sequer nos meus. Passei o dia abraçada com uma toalha que guardava muito distante o cheiro do sabonete ou talvez um pouco de perfume. Aspirei todas as lembranças... Fechei os olhos não sei se adormeci, não sei o que fiz de mim...
Não pude mudar o que sinto, me obriguei a esquecer, mas tudo é pretexto pra lembrar. E assim 366 ou 365 dias, milhares de horas, incontáveis segundos de tempo que se arrastou até chegar ao hoje novamente. Tive opções e sempre temos. Optei por não gostar... mas gostei. Optei por esquecer e o que estou fazendo aqui um ano depois? Lembrando. E assim, de vez em quando, em certos períodos, sem razão aparente, a saudade aperta mais forte, mais arrebatadora. Tira-me o sono, a paz, a visão e novamente faço a escolha errada. Escolho a solidão de um quarto escuro ou a companhia de um filme triste, talvez algumas horas de delírios alcoólicos forçados ou a lucidez do cigarro por alguns minutos.
Mudo o meu jeito, mudo a posição dos móveis, mudo minhas roupas, o corte de cabelo, mudo o perfume, o círculo de amigos, os lugares que frequento, mas só não muda o pensamento, esse sempre volta. Não consigo entender. Reclamo do esquecimento, de ser deixada de lado, de não ser amada o suficiente enquanto os outros se queixam de mim por eu amar de mais. Será mesmo que amor é demais? Se não for de mais será amor? Se não for chama, se não for intenso, se não for pra consumir e renascer de si mesmo, se não se morrer de amor como pode ser amor?
Joguei-me no abismo sabendo que iria cair. E me permiti sentir tudo, ofereci o qu etinha e me desfiz de mim. Meu corpo, mnha mente, minha alma. E ainda vivo à sombra desse sentimento. Espero ter forças para vence-lo para para não ser mais consumida nessa flama eterna. Talvez apenas fazer a escolha certa desta vez.
Revirando papéis antigos encontrei este texto ele mostra como eu me sentia aproximadamente um ano atrás. Ler textos antigos é engrandecedor para mim, mostra como eu pensava e me permite analisar a forma como vejo e como ajo hoje em dia. E para ele não se perder na bagunça empoeirada do meu quarto, compartilho-o aqui.
M.D
João Pessoa,14 de fevereiro de 2010, 12:30
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