quarta-feira, 29 de julho de 2015

Sobre rever esperanças



Hoje eu estava fazendo uma limpeza online. A microsoft liberou o Windows 10 e eu estava meio que preparando o território para ele, mesmo sem precisar. Então no meio dos documentos eu pude perceber como o país retrocedeu enormemente em pouco mais de dois anos.

Uma das coisas que encontrei nessa 'faxina' online foi uma gravação da apresentação do meu TCC - escrevi uma grande reportagem sobre homossexualidade e religião - e percebi como o panorama da época parecia outro.

Naquela época já tínhamos um tímido Bolsonaro, mas Malafaia e Feliciano eram vozes quase solitárias e não tínhamos a ameaça real do Cunha, o tal todo poderoso da Câmara dos deputados.

No trabalho eu ouvi homossexuais e pais de homossexuais, além de autoridades religiosas. Dos gays, apenas um era ateu e outra não tinha religião definida apesar de se considerar cristã. Tinha depoimentos de homossexuais católicos e também espíritas. E nas conversas com o Padre e o pastor as coisas apesar de difíceis parecia haver uma esperança, um fio de tolerância no fundo de tudo isso.

As minhas considerações finais à época apontavam isso, apesar de agora enxergar que talvez o erro tenha sido meu, em não ter me esforçado mais em procurar homossexuais evangélicos (será que eles simplesmente não existem? ou a igreja já ali os cobria com seu véu de hipocrisia?).

Em dois anos a conjuntura do país mudou completamente. Passamos para uma teocracia disfarçada, reguladores da vida amorosa dos outros, uma obrigatoriedade de seguir cegamente as orientações de pastores que fazem tudo menos seguir o que a Bíblia diz.

A sociedade parecia querer se abrir, tolerar, mas hoje em dia é como se vivêssemos em estado de sítio todo o tempo. Casos de estupro e sequestro estão se tornando rotina, praticados por uma sociedade machista que acha que tem direito sobre o corpo das mulheres, que as diminui, humilha e mata.

Esta mesma sociedade também tornou-se ainda mais racista, após esses mesmos 'representantes de deus' se colocarem a favor da redução da maioridade penal, do 'bandido bom é bandido morto' e do 'atira no negro primeiro, depois pergunta se tem ligação com o crime'.

E uma sociedade onde um casal gay dar as mãos em público é uma afronta, mas pregar ódio é apenas opinião. Uma sociedade que nos expõe e crucifica os diferentes.

Como as coisas mudaram. Como de repente todo o fio de esperança se esvaiu e tudo parece tão difícil. Lembro de uma entrevista da atriz Marieta Severo na Folha de São Paulo, onde ela se abismou pelo fato de que direitos já conquistados podem ser tomados das pessoas. Como podemos retroceder tanto em pleno século XXI.

Se eu estivesse escrevendo aquele texto hoje, com certeza a conclusão seria outra. Hoje não vejo mais esperança no futuro, mas sinto medo do fundamentalismo. Sinto-me impotente diante do cenário nacional e dos monstros no Congresso, da Assembleia, dos gestores, do desconhecido misógino e homofóbico.

Assim como todo o resto da população, principalmente de cidades violentas, como João Pessoa vem se tornando, tenho medo de ser assaltada também, de sofrer um acidente neste trânsito louco e isso não minimiza meus outros medos, apenas potencializa.

A onda fundamentalista saiu dos pequenos lugares e invadiu nossas casas, com nossos pais condenando uma novela por ter um casal de idosas gays. Transformando a vida dos outros num inferno ao tentar impor uma religião forçadamente e tolhendo nossa liberdade em nome de uma moral que sinceramente eu nunca vi, tampouco bons costumes. Talvez eu reescreva algo.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Aquela que se posiciona nas eleições ou revoltada com a massa que não sabe votar

Estou de saco cheio desses escândalos envolvendo políticos. Agora é que não voto mesmo no segundo turno, nem aquele voto de medo do Brasil ser dominado por uma evangélica-homofóbica-que-muda-de-opinião-mais-do-que-de-roupa. Reclamo tanto da corrupção que não vou me dar ao luxo de ir contra meus princípios por medo. Não votarei em Dilma, nem em Marina, muito menos em Aécio. Estou em dúvida ainda entre Eduardo Jorge e Luciana Genro no primeiro turno. 

Para deputado também, tem um monte aí parasitando a Câmara Federal e a Assembléia Legislativa sem dar uma gota de contribuição à população a não ser se vender para quem pagar mais. 

Vou votar em Seu Ciço para estadual e em Renan Palmeira para federal. Senador ainda não me decidi, mas também ha candidatos que já tiveram chances e chances e nunca mostraram para que vieram, além de um acusado de plagio de projeto. 

Para governador meu voto vai para Tarcio Teixeira, apesar do medo do candidato Casse-o ser eleito em primeiro turno. Vou dar meu voto utópico sim, por uma Paraíba muito melhor, apesar de admitir que Ricardo tem sido um governador em infinitos aspectos melhor que Cássio e que talvez eu possa votar nele num segundo turno. 

Não digo que minhas escolhas são perfeitas ou certas, mas não voto de cabresto. Ninguém está me obrigando ou pedindo, estou analisando os projetos e a forma como lidam com questões que me afetam pessoalmente, que afetam a população brasileira de forma positiva. Não vote por que candidato A é bonito ou porque o pastor ou o padre mandou, ou ainda por medo de perder benefícios como o bolsa família porque nenhum governante vai extingui-lo (talvez o pastor Everaldo). 

Vote com convicção, acreditando que o candidato será o melhor para a nação ou para o estado e não apenas para a própria família ou um grupo de pessoas (geralmente a classe alta e empresários). Escolha com consciência porque a única arma que temos contra a corrupção e para melhorar o nosso país é o voto.


segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Um agosto qualquer

Hoje novamente um parente me falou que meu pai brada aos quatro ventos o quanto tem orgulho de mim, já ouvi de outros e até dele mesmo alguma vez. Então fiquei me perguntando, do que ele tem orgulho? Meu pai sequer me conhece, duvido que ele saiba quantos anos eu tenho, que meu cabelo já está ficando branco, que ele conheça meu sotaque ou saiba a cor dos meus olhos. Talvez se eu passasse na rua, ele nem me conhecesse.

Meu pai não sabe os perrengues que passei para chegar aqui, nem como eu fiz para me virar quando tinha três empregos que não pagavam quase nada e ainda estudava. Ele não sabe que eu já fui vendedora de cartões para uma ONG, ou de cartões de crédito, ele não sabe da minha passagem por um restaurante no shopping Tambiá, nem de quando fui monitora escolar numa comunidade em Bayeux e tinha que pegar alternativo (um deles, o motorista prendendo o cinto no freio de mão) ou quando fui recenseadora nas proximidades do presídio do Roger.

Meu pai sequer ligou para me parabenizar quando passei no vestibular, ou quando me formei, mas se orgulha em dizer que tem uma filha jornalista.

Meu pai não teve um centavo de participação no meu apê, mas espalhou para todos que tinha comprado um para mim quando eu ainda era adolescente. Aliás, ele sempre foi mestre em aparecer de vez em quando (de vez em quando mesmo), oferecendo mundos e fundos e não cumprindo nada.

Meu pai não tem motivos para se orgulhar, ele nem conversa comigo para saber como está minha vida. Não sabe nem qual o dia do meu aniversário. E a única coisa que me agrada em relação a ele, é desmentir todas as coisas que ele diz para os parentes, ainda assim pela total falta de consciência dele, por parecer que não há o mínimo problema de ser pego na mentira, isso não faz nem sentido. Não tem porque meu pai se orgulhar de mim, porque ele simplesmente não sabe quem eu sou!

Onde estão os gatos quando se precisa deles? ou tinha uma barata no quarto

Estava tranquila estudando, passando o jogo na TV para fazer um som ambiente quando de repente ouço aquele barulho de asinhas. Fiquei desesperada sem saber de onde vinha, foi só achar o local e lá veio a barata voadora na minha direção. Ela percebeu meu medo e se jogou com tudo de cima do guarda-roupas mirando o meu rosto. Só deu tempo de pular da cama e correr para a varanda. Ela caiu exatamente onde eu estava sentada e ainda se jogou em mim novamente, fechei o vidro da varanda e me tranquei do lado de fora (grande trabalho hein. Deixei a casa toda para a barata).

Modi estava trancado comigo do lado de fora, como ele sempre faz quando acontece alguma coisa, corre para perto do primeiro humano que aparece e fica entrando na frente impedindo a pessoa de andar. Já Mestre Yoda saiu em disparada para debaixo da cama onde ainda está, com medo.

Entrei pelo outro lado da varanda e não vi a barata. Comecei levantando as coisas que estavam em cima da cama com muita apreensão para ela não me atacar novamente, depois com menos cuidado, sacudindo mesmo, e finalmente chutando as coisas que estavam pelo chão na expectativa de não dar reação para ela quando a encontrasse. Enquanto isso, Modi procurava só onde eu já tinha olhado. E acompanhava o movimento das minhas mãos, mas parecia nem se dar conta que tinha um monstro voador comedor de carne humana aterrorizando meu quarto.

Finalmente minha tática de chutar deu certo. Ela caiu no chão de barriga para cima e eu venci! Fui pegar a pá e vassoura para jogá-la fora e Modi todo saltitante ao meu lado, voltei e ele ainda não tinha percebido que tinha um inseto no chão (logo ele que é um caçador exímio de muriçocas). No fim, entre mortos e feridos, só a barata que se deu mal. O único problema vai ser ter que lavar todos os lençóis de cama e as roupas que ela encostou amanhã.



terça-feira, 5 de agosto de 2014

João Pessoa 429 anos: Apesar dos pesares...

Amo João Pessoa, mesmo que ela não seja realmente minha, mesmo que eu nunca tenha visto o por-do-sol no Rio Sanhaua da Casa da Pólvora, mesmo que eu nunca tenha entrado no mosteiro... Mesmo que eu nunca tenha feito um roteiro desses que é destinado aos turistas.

Amo João Pessoa, mesmo que aqui o final de semana não tenha absolutamente nada para fazer. Amo a praia, mesmo que não possa deixar as coisas na areia para entrar no mar porque alguém pode roubar, mesmo que nas praias mais acessíveis eu saia me coçando da água..

Amo João Pessoa e um dos cartões postais da cidade tem o nome do meu pai (e outras características também). Parque SOLON de Lucena a Lagoa, mas é um lugarzinho escuro e sem vida que ninguém consegue passar muito tempo perto. (Apesar de prometerem uma reforma total - em andamento).

Amo João Pessoa, mesmo que eu tenha medo de sair na rua a qualquer hora do dia ou da noite. (Quando me mudei para cá, 8 anos atrás, era só durante a noite e nem tanto). Mesmo que eu já tenha sofrido tentativa de assalto no centro, na praia, no ônibus.. Mesmo que no são João eu tenha ficado confusa sobre se eram fogos ou tiros e quando me convenci que eram fogos, o noticiário disse que uma 'vizinha' tinha morrido baleada dentro de casa.

Amo João Pessoa, apesar de levar mais de 1h em pé num ônibus lotado para chegar no trabalho que fica a 20 minutos de carro. Mesmo que quando eu consiga sentar venha o povo da Manassés oferecer coisas inúteis por 2 reais sob a justificativa que poderia estar roubando. Ou ainda que esteja cheio de 'Mofi' ouvindo música da 'Okaida'.

Amo João Pessoa (Parahyba), mesmo que nossos símbolos históricos se confundam com crimes passionais e que a maioria da população não saiba ou não ligue para isso. Mesmo que estejam destruindo o que deveríamos nos orgulhar (como a mata verde, a esperança.. Vide Renata Arruda). Mesmo que o Centro Histórico esteja praticamente abandonado, esperando desabar para ser construído algo em seu lugar (?), ou que tenhamos perdido o titulo de cidade mais verde do Brasil. De que importa se mais veículos podem trafegar na Epitácio? Vamos fazer o mesmo com a Beira Rio?!

Amo João Pessoa e não conheço quase nada de seus 429 anos e o pouco que sei dos 8 anos que passei aqui é que devo ser masoquista por amar essa cidade, mas amo. Sei que os problemas não são só daqui, mas queria muito conhecer a cidade pacata e receptiva que tanto ouvi falar.

terça-feira, 10 de junho de 2014

A melhor época da vida (texto não revisado)

Que eu estou de saco cheio da sociedade, principalmente brasileira, não é segredo para ninguém. E além de todas as críticas que faço a esse sistema doente, me peguei pensando nas coisas que as nossas crianças estão aprendendo. Cada dia mais as novas gerações crescem sem valores, sem moral e sem as experiências maravilhosas de quando éramos crianças.

Tá, nem sou tão velha assim, mas cresci numa cidade de interior onde não tinha problema em dormir com a porta aberta. Lá eu deixava a bicicleta do lado de fora, cheguei até a esquecer de guardar e sai de madrugada para pegar, ela estava do mesmo jeito na calçada. Eu podia sair a noite para o quintal e ficar olhando um céu com milhares de estrelas que eu nunca vi na cidade 'grande' e sem medo de aparecer um ladrão ou estuprador no quintal.

Cresci num lugar onde não tinha internet e para assistir algum canal além da globo era preciso antena parabólica. A TV da minha casa era preto e branco e eu detestava o programa do Serginho Groisman a tarde. Quando compramos uma parabólica eu já era adolescente, antes disso vi um episódio de Cavaleiros do Zodíaco num dia quando resolveu pegar a falecida Manchete e lembro como se fosse hoje do enterro de Airton Senna, que eu fiquei chateada por não estar passando desenho.

Na minha cidade todos conheciam a minha família e eu conversava com os amigos fazendo telefone com latas. Eu era livre para me desenvolver. Quase perdi a unha de um dedo da mão depois de levar uma martelada enquanto fazia uma casa para o cágado (também conhecido como jabuti) e coloquei o braço dentro de uma 'fogueira' para salvar uma gatinha que meu vizinho 'demônio' jogou porque ela tinha feito cocô no sofá da casa dele.

Eu construí uma casa com folhas de banana e usava flores para enfeitar. Eu sabia que não podia encostar em urtiga, nem colocar na boca 'comigo ninguém pode'. Fazia aposta de quem conseguia comer mais pimenta malagueta e travei a mandíbula comendo seiva de árvore achando que era mel. Também construi uma casa feita de tijolos que eu mesma fiz e desabou na primeira chuva.

Jã levei mordida de cavalo na orelha e já me senti a amazona quando levei o animal para casa montada nele com uns 5 anos de idade (na verdade, o bicho sabia o caminho decorado). Já queimei a sola do tênis pisando na brasa da fogueira de são joão, já que não podia comprar daqueles tênis que acendiam. E colei os dedos quando cauterizaram com uma 'cobrinha' (tipo de fogo de artíficio).  Naquele tempo o são joão era animado, tinha muitos rojões, eu tinha medo de fogos, mas gostava de vela luminosa. A pamonha era feita em casa e passávamos o dia descascando milho, que era plantado no nosso próprio roçado, ralando e preparando. O cheiro enchia a casa.

Eu cortei as pálpebras e depois 'colei' elas quando caiu uma gota de cera de vela derretida, de uma lanterna caseira.

Naquele tempo o kinder ovo tinha brinquedos úteis e custava bem menos de um real. Aliás, um real era um dinheirão. Tanto quanto 100 daquela outra moeda que tinha o mesmo desenho da cédula de 1.

Eu escorregava nas ladeiras sentada em uma garrafa pet e rasgava a calça, brincava de esconde esconde, de toca (brincar de pegar), polícia e ladrão. Não gostava de brincadeiras lesas e que sempre tinham algum direcionamento para as meninas beijarem os meninos. Eu gostava de subir em árvores e de gatos.

O som era com fita K7 e eu ouvia xuxa (porque era o que tinha) e trem da alegria (que já era velho naquela época). Brincava de pular corda, fazia balanço, aprendi a andar de bicicleta numa bike pesada de segunda mão. Fui arrastada por uma cabra que enroscou a guia no meu pé e saiu puxando. Fui perseguida por um carneiro, por um cachorro, por um galo, por um sapo... Já desci ladeira dentro de uma mala de viagem.

Quando eu era criança eu roubava fruta no quintal do vizinho, jambo e carambola. Andava nas ruas por trás da cidade e descobria lugares abandonados. Jogava bola com os meninos na rua e quando maior, tomava banho de cachoeira.

Ganhei um video game quando eu tinha uns 11 anos, era um Nintendo que só tinha o jogo do Mario e a TV preto e branco que estava sem som nessa época, ficou para mim. Pouco depois ganhei um master system, também usado, mas esse pelo menos tinha 2 controles e dava para jogar com outras pessoas. Mas mesmo com esses jogos eletrônicos, a rua era sempre mais divertida. Fiz um bloco de carnaval, um circo e elaborei um 'labirinto de terror' e uma festa junina, mas nunca dancei quadrilha.

Corria para pegar o ônibus escolar que passava para a garagem com a porta de trás quebrada e atirava pedra em caixa de marimbondo até um me acertar e meu braço inchar até o cotovelo. Colocava apelido nas pessoas na escola e colocavam em mim e ninguém chamava isso de bullying.

Pulava de uma margem do riacho para a outra, caindo dentro sem saber nadar. Caí da pia de casa, da pia da casa da minha avó, do muro do colégio, de cima da cachoeira, do balanço do parquinho, do escorrega, caí da árvore, bati de frente com um poste quando vinha de bicicleta e quando vinha correndo a pé também.

Briguei de arrancar sangue. Levei soco, apertei garganta, só não puxei cabelo. Corri, sozinha e acompanhada. Caí na escolinha, na ladeira para casa, na calçada de vovó, no meio da rua. Apesar disso nunca quebrei nada.

Na minha cidade, todo mundo corria para casa quando dava 9 horas e ia começar a novela, acho que era a Indomada nesse tempo e todo mundo tinha medo do caderudo. As meninas brincavam junto com os meninos. Todos queriam ser power rangers e as pessoas que estavam ao nosso redor também eram honestas.

Ia para a festa da padroeira só por causa dos parques e os brinquedos eram na maioria manuais. Lembro como se fosse hoje do carrossel de Seu Necino que funcionava na base do braço, ele e os filhos empurrando e sem nenhuma trava para se segurar e tinha a canoa que nós mesmos tínhamos que puxar e no final todo mundo acabava com calos nos dedos. Tocava Creedence Clearwater Revival nos auto falantes.

Na minha cidade tinha um museu que era mais uma minibiblioteca e lá anunciavam quando ia acontecer algo, mas geralmente eles só davam o falecimento das pessoas. Ainda muito pequena lembro do céu ao anoitecer quando ainda não tem estrelas e ouvir a ave maria vindo de lá. (minha casa tinha vista para a Praça e como era no alto dava para ver boa parte da cidade).

Eu fui uma criança muito levada, mas muito feliz. Fico incomodada que hoje em dia as crianças não tenham essas oportunidades, trancadas em frente a computadores, tablets, TVs e celulares. Jogando fora a melhor época da vida e tornando-se seres desprezíveis e mesquinhos sem a mínima capacidade de discernimento ou sequer de aproveitarem os bons momentos.

terça-feira, 3 de junho de 2014

Sobre ninguém nascer gay e a ignorância disfarçada de informação


O texto abaixo refere-se ao texto do Blog do Felipe Moura, na revista VEJA, do dia 02/06/2014:


“Ninguém nasce ‘gay’, nem ‘sai do armário’” – Os perigos da propaganda homossexual na mídia conservadora


Fiquei tentando imaginar o que passa pela sua cabeça, caro colega. Vê-se logo que não tem a mínima vivência do assunto (outros diriam que se tem, é enrustidez - gostei dessa nova palavra). 

Citar escola de Frankfurt não te dá base alguma para falar de sexualidade, afinal, vc está tratando como teoria da comunicação um comportamento inerente ao ser humano: a atração sexual. Claro que vc acha fácil culpar a mídia manipuladora, afinal, para escrever para a VEJA vc entende bem o significado dessa palavra. Contudo, discordo quando vc cita a questão do politicamente correto, já que não é só politicamente, mas CORRETO, respeitar as pessoas. 

Respeito sua opinião, apesar de me doer no coração ler tais impropérios para uma massa já direcionada que tem como fonte de informação este referido veículo. Quero falar principalmente da questão da homossexualidade, onde você expõe que ninguém nasce gay ou sai do armário, quero crer que vc estava sob efeito de alguma substância alucinógena quando escreveu tais coisas, já que uma mente em sã consciência e com o mínimo de formação crítica, jamais articularia tais absurdos no ano da graça do nosso senhor jesus cristo, 2014.

Acho que cheguei no ponto. Se fala em destruir a família, mas as únicas famílias que vejo (tentarem) ser impedidas de ter uma vida saudável são de homossexuais. Falam das crianças, mas não se vê as milhares abandonadas por pais héteros, falam em depravação, mas talvez nunca tenham experimentado em suas vivências heterossexuais, apenas sexuais, amor mais verdadeiro. 

Já vivemos em um país subdesenvolvido demais, onde jovens (sim, homossexuais são crianças e adolescentes também) sofrem cada dia mais com o preconceito dentro da própria casa, por pura falta de empatia, desses que são defensores da família. 

Mas vivemos num país laico (pelo menos no papel) o que não impõe que a religião cristã deve servir de base para a sociedade. E o único lugar que condena (há controvérsias) a homossexualidade é a bíblia. Fora isso, nada! Vc pode até citar a constituição que fala homem e mulher e eu não posso rebater que ela é arcaica por ser de 1988, pois vc me treplicaria citando a dos EUA que é a primeira do país ainda. Contudo, algo que vc não deve ter atentado é que em inglês só existe um artigo definido 'The' que serve tanto para 'o', quanto para 'a'. Em português não temos essa liberdade linguística. 

E claro que em 1988 existiam homossexuais, na Grécia antiga existiam homossexuais, na idade da pedra, em todos os tempos e lugares. Entretanto, nunca vivemos em uma era de informação como esta. Onde, infelizmente, artigos como este seu, caro colega, estão disponíveis para uma massa acéfala que acredita em tudo o que lê. Não quer dizer que a população gay aumentou, eles só estão 'saindo do armário' é isso o que essa expressão significa: se mostrar, deixar de se esconder, se assumir, para si e para o mundo. Se permitir ser feliz assim como se é e não tentar mudar baseado nas ideias retrógradas dos outros que fazem parte do outro grupo. 

É muito fácil para um homem, branco, rico, heterossexual, do centro-sul do país, criticar o feminismo, a pobreza, a homossexualidade e os nordestinos. Na época do politicamente correto, vc não pode fazer isso, não é mesmo? Então a culpa é da mídia que vc não pode ser preconceituoso à vontade. Estão tirando o seu direito de tirar o direito dos outros. Gays não querem impedir que heteros se casem, nem que adotem crianças ou que andem de mãos dadas pela rua. Gays não querem obrigar heteros a serem gays, mas os heteros sempre quiseram e continuam querendo 'transformar' gays. Mulheres não querem obrigar que os homens andem com camisa por medo de serem estuprados, pobres não querem que vc deixe de ter o que tem, mas a partir, da classe média, um sem número de pessoas querem impedir que as classes menos favorecidas ascendam, afinal, onde já se viu pobre chegar à universidade? onde já se viu pobre querer ser alguém? mas é muito fácil reclamar quando eles roubam, sendo que vcs mesmos quem tiram as outras opções. Os nordestinos não ridicularizam o povo do centro-sul, apesar de ter sido a nação nordestina a construir (praticamente) São Paulo e literalmente Brasília. 

Por isso, meu caro, colega jornalista. Citar escolas literárias deixa seu texto muito bonito, mas fico imaginando a falta do que fazer que foi procurar argumentos 'científicos' para condenar pessoas que só querem ser felizes da maneira como são. 

sábado, 24 de maio de 2014

Praia do futuro


Se você não quer ver cena de sexo gay no cinema, vá assistir outro filme, ora bolas!

O povo é ignorante em todos os sentidos viu? Além de ser homofóbico é burro que não sabe ler a porcaria de uma sinopse de filme para, pelo menos, ter uma ideia do que se passa.

Foi bem achando que 'Praia do futuro' era "uma mistura de Tropa de Elite com Elysium e que Wagner Moura seria um salva vidas linha dura que resgataria as pessoas em sua prancha igual de volta para o futuro" (descrição de Pedro Callado) aí não pode ver o machão sendo gay..

Me poupem gente, o país da pornochanchada (é assim q escreve?) vem falar de uma cena de sexo no cinema. Fosse na novela, não falava nada, mas no cinema?

Ninfomaníaca ninguém 'avisou' né? Mas todo mundo sabia que teria sexo. Azul é a cor mais quente, ninguém falou nada né? Porque nessa sociedade machista doente, lésbicas ainda são fantasia sexual desses pervertidos que acham que podem 'entrar no meio da brincadeira'. Me poupem de sua hipocrisia!

E gays são humanos viu gente? Eles beijam, abraçam e... acreditem. Fazem sexo, assim como todos nós!

terça-feira, 13 de maio de 2014

Somos Todos Culpados

Quero deixar o Brasil. Chegou um ponto em que não acredito mais ser capaz de fazer nada para mudar aqui. Que me sinto pequena, que sinto que os que querem fazer algo concreto não passam de gatos pingados e que tudo só vai piorar.
Estou cansada de todos colocarem a culpa em fulano ou beltrano e não se conscientizar de sua própria culpa. Somos todos culpados. De não saber votar, de se contentar com migalhas, de se fazer de coitados... Todos somos corruptíveis e cada dia que passa 'pessoas de bem' viram exceções.
O jeitinho brasileiro é uma total falta de respeito com seu próprio povo. Pregamos que é inteligente ser malandro. Jogamos nossa cultura no lixo, onde nossa humanidade jaz também há algum tempo. Deixamos de ser humanos, deixamos de nos importar com os outros.
Conforme a classe média avança, queremos que os pobres morram para deixar de ser um empecilho ao desenvolvimento do país. Desenvolvimento... desenvolver o que? Somos uma grande nação aos olhos de quem? Poder econômico nas mãos de poucos enquanto a grande massa paga por regalias absurdas dos outros. Somos uma grande nação erguida as custas de altos impostos e pouco retorno.
Somos um bando de alienados que acha que patriotismo é torcer para a seleção brasileira de futebol. Somos ignorantes e estúpidos e só sabemos consumir e consumir. Jogamos nossas frustrações na mídia, culpamos a Dilma, acreditamos que o problema começou agora...
Como ficamos tão inertes? Como esse sentimento de impotência atingiu tantas pessoas? Culpamos todos, mas não olhamos para nós mesmos, não movemos um dedo para melhorar o que quer que seja, acreditamos que não é da nossa conta.
Em quem você votou para deputado na eleição passada? e senador? o que esses políticos fizeram em quatro anos de mandato? Por que você não conversa sobre política com seus amigos? Por que não se informa para ter opiniões embasadas? Por que continuamos cometendo o mesmo erro de novo, e de novo e de novo?
A culpa é toda nossa! Nós os colocamos lá, nós fizemos toda essa merda acontecer. Falam do analfabetismo, mas o pior de tudo é o analfabetismo funcional. Não falo só das pessoas que só sabem ler e assinar o nome, falo também dos universitários, que tem teoria, que passam quatro, cinco anos numa instituição e saem mais vazios que quando entraram. Se não dá para começar de baixo, que é onde o governo deveria investir, por que não começamos por nós? Porque ninguém quer dar a cara a tapa e admitir que não sabe de nada. Ninguém quer começar do zero. Todos somos muito sabidos, 'jeitinho brasileiro', lembra?
Então, a solução que encontro é me juntar a essa massa. se não pode vencê-los... Mas eu me recuso a fechar os olhos e achar que está tudo bem. Me recuso a apenas fazer reclamações vazias e genéricas. Tento convencer as pessoas a fazerem o que é certo e sou chamada de utópica, então fico triste, vou percebendo que cada dia menos pessoas tem o desejo de realmente mudar alguma coisa. E que na primeira oportunidade que tiverem de usar o 'jeitinho brasileiro' assim o farão. Por isso quero sair deste país, me sinto em um caldeirão fervendo a ponto de explodir e não posso fazer nada para impedir.
Também sou culpada, assumo a culpa, mas consciente disso ao menos.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Aquela do Jornalismo da depressão