segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Um agosto qualquer

Hoje novamente um parente me falou que meu pai brada aos quatro ventos o quanto tem orgulho de mim, já ouvi de outros e até dele mesmo alguma vez. Então fiquei me perguntando, do que ele tem orgulho? Meu pai sequer me conhece, duvido que ele saiba quantos anos eu tenho, que meu cabelo já está ficando branco, que ele conheça meu sotaque ou saiba a cor dos meus olhos. Talvez se eu passasse na rua, ele nem me conhecesse.

Meu pai não sabe os perrengues que passei para chegar aqui, nem como eu fiz para me virar quando tinha três empregos que não pagavam quase nada e ainda estudava. Ele não sabe que eu já fui vendedora de cartões para uma ONG, ou de cartões de crédito, ele não sabe da minha passagem por um restaurante no shopping Tambiá, nem de quando fui monitora escolar numa comunidade em Bayeux e tinha que pegar alternativo (um deles, o motorista prendendo o cinto no freio de mão) ou quando fui recenseadora nas proximidades do presídio do Roger.

Meu pai sequer ligou para me parabenizar quando passei no vestibular, ou quando me formei, mas se orgulha em dizer que tem uma filha jornalista.

Meu pai não teve um centavo de participação no meu apê, mas espalhou para todos que tinha comprado um para mim quando eu ainda era adolescente. Aliás, ele sempre foi mestre em aparecer de vez em quando (de vez em quando mesmo), oferecendo mundos e fundos e não cumprindo nada.

Meu pai não tem motivos para se orgulhar, ele nem conversa comigo para saber como está minha vida. Não sabe nem qual o dia do meu aniversário. E a única coisa que me agrada em relação a ele, é desmentir todas as coisas que ele diz para os parentes, ainda assim pela total falta de consciência dele, por parecer que não há o mínimo problema de ser pego na mentira, isso não faz nem sentido. Não tem porque meu pai se orgulhar de mim, porque ele simplesmente não sabe quem eu sou!

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