sábado, 12 de setembro de 2009

Olhos falantes


Ela falava muito e sabia disso. Ela falava tudo o que vinha à sua cabeça. Nem sempre o que eu queria ouvir, mas sempre o que quis dizer.


Ela falava muito e não apenas com sua boca. Ela sabia também falar com os olhos.

Olhos que passavam a ternura de seu ser. Olhos ingênuos, por vezes preguiçosos. Seus olhos não mentiam. E falavam, mesmo que calados, mais até que as inumeras palavras que sua boca pronunciava.

E como eu amava a forma como ela olhava para mim. Amava tanto quanto odiava a forma como ela olhava para mim. Aquele tom esverdeado a denunciar o quanto ela me amava para todos que a vissem me olhar. Seus olhos brilhavam ao me ver, sorriam para mim.

Aqueles olhos me endeusavam, admiravam... me observavam enquanto eu dormia, enquanto suas palavras calavam e ela apenas me olhava.

Seus olhos falavam até quando se esquivavam, quando algo a deixava envergonhada. Essa era outra coisa que eu amava nela. Sua timidez, a forma como se atrapalhava com as tantas palavras que dizia, e como tentava concertar com mais e mais palavras e expressões e olhares que procuravam abrigo em algum lugar do quarto.

Eu amava aqueles olhos. Olhava a beleza inocente deles refletindo seu interior. Amava aqueles olhos que me desejavam. Eu odiava aqueles olhos por me desejarem tanto. Eu odiava ter que dizer adeus e vê-los suplicarem calados para que eu não fosse.

Odiava vê-los encher de lágrimas e calar as palavras dela em instantes angustiantes e que pareciam eternos de silêncio e despedida. Odiava os olhos dela que não vejo mais. Odiava não poder odiar aqueles olhos, aquelas palavras que sabiam o que dizer quando eu mais precisava e que muitas vezes disseram as maiores besteiras em horas indevidas.

Eu amava aqueles olhos falantes. Odiava aqueles olhos por falarem tanto. Amava eles falarem comigo por horas e horas e adorava quando eu perguntava o que estava fazendo e ela calava as milhares de explicações que poderia dar e apenas me respondia: "Estou só te olhando".