quinta-feira, 28 de abril de 2011

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E o ônibus passa apressado, desviando de pessoas que você já encontrou, já esbarrou ou  talvez nunca viu. Sentado ao seu lado está alguém que pega o mesmo ônibus que você, todos os dias, no mesmo horário e ninguém percebeu. O cobrador poderia ser seu amigo, seu vizinho ou somente o cara que te ensinou o ponto errado na hora de descer.

Pessoas, são só mais um atrapalho se enfileirando nos caixas, nas lojas, na porta do ônibus que você sobe ou desce, obstruindo o caminho e mesmo em meio a tanta gente você se sente só. Não faz parte da multidão. Afinal, uma multidão é uma multidão, eles lá e você aqui, a multidão não se abre para você passar, mas você vê a trilha imaginária  fluindo entre a massa homogênia de braços, pernas e cabelos. A multidão não tem olhos e nem boca, ninguém vê ou diz nada, são cegos, surdos e mudos e só você é diferente, você é um EU, um ponto jogado a esmo num conjunto de outras coisas.

Atropelando pensamentos com os passos apressados na rua esburacada e trombando com mendigos invisíveis. Os sons são de tal forma filtrados que nada é ouvido. O caminhar vira uma perambulação, como se tivesse um imã onde você quer chegar e quando percebe já está lá. O caminho é simplesmente esquecido, despercebido.

Quase nunca você para. Estuda, trabalha, assiste TV, ouve música, joga conversa fora, namora, dorme, anda de ônibus. E a vida vai passando, durante esse percurso ninguém sente o vento, percebe o sol, observa as estrelas no céu, ninguém sorri para você na rua, ninguém ajuda um idoso a atravessar, ninguém diz bom dia, ninguém te enxerga.

E no ônibus, enquanto a cidade passa por você, mil problemas rondam sua mente, onde deveria estar, o que deveria estar fazendo, o barulho dos carros abafa o canto dos pássaros, a viagem torna-se apenas chegada, o caminho é empecilho, atrapalho.

Não somos humanos, somos coisas vagando de um lado para outro, procurando papéis encardidos para por um pouco de comida no prato. Somos todos feitos de desejos efêmeros e você corre atrás da felicidade como se ela fosse algo que pudesse ser alcançada.. como se a felicidade fosse palpável, como se fosse uma coisa pronta, como um macarrão instantâneo...

No ônibus, na calçada, em casa, na vida... talvez tenha chegado a hora de esquecer toda a maluquice, toda a pressa, todo o corre-corre e se questionar o porquê de tudo isso. Talvez tenha chegado a hora em que a multidão virará pessoas de verdade com suas diferenças e semelhanças e que você fará parte dela. Talvez tenha chegado a hora em que você precise apenas se deixar sentir.

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